Caro professor.
Tenho continuado minhas leituras, apesar do grande aperto dos últimos 20 dias em razão das mudanças na estrutura do Estado, com a posse do novo governador e alteração de nosso Procurador-Geral. Infelizmente, por algum tempo terei (teremos?) que lidar com isso, até que consiga uma liberação total de meus serviços para concentrar-me na pesquisa. Pretendo, a partir da abril ou maio, utilizar licença prêmio de 3 meses para esse fim.
De qualquer forma, estive pensando sobre suas observações e sobre o projeto. Antes de avançar em uma necessária reformulação (com indicação de variáveis secundárias e renomeação de capítulos), como o senhor corretamente indicou, acredito que devo compartilhar uma preocupação.
Se o senhor observar, a estrutura proposta dos capítulos passa por uma parte inicial de caráter eminentemente sociológico, explorando as intrigantes questões que afetam a forma de organização social, econômica e política contemporânea. Neste capítulo, pretendo deixar claro meu posicionamento quanto a questão da (pós)-modernidade, já que é esta é parte do trabalho que oferecerá as bases da perspectiva teórica sustentará minha pesquisa nos demais capítulos. Isso passa, portanto, por uma decisão. É sobre ela (a decisão sobre como vejo a modernidade tardia-reflexiva) que quero discutir, porque é condição sem a qual não conseguirei avançar no estudo.
No livro “Modernização Reflexiva”, há uma série de idéias convergentes entre Beck, Giddens e Lash, mas acredito que há divergências tão-grandes quanto. Giddens parece ser o mais convervador dos três. Sua visão dos sistemas especialistas como mediador das transformações sociais, ainda que formulado sobre uma idéia de participação ativa dos indivíduos leigos, não deixa muito espaço para uma interpretação mais “revolucionária” da democracia. Já Beck, com sua formulação da “subpolítica”, avança quando estabelece a possibilidade de maior horizontalidade das instituições políticas, inclusive fora do Estado. É interessante sua idéia de sociedade de risco e a necessidade de maior participação dos movimentos sociais. Mas, então, na obra, chegamos às considerações de Lash, que está me colocando em angustiosa dúvida.
Lash considera que tanto Giddens quanto Beck, ainda que eventualmente refutem a idéia, demonstram, em suas teorias, uma profunda crença nas instituições. Ainda que Beck recuse os sistemas especialistas como mediadores das transformações sociais, avançando para participação de movimentos sociais, essa idéia se apresenta ainda amarrada a instituições formais, afastando a possibilidade de uma democracia participativa da política leiga, dos movimentos sociais informais. Lash pensa assim porque ele parece estar mais afinado com as idéias do pós-modernismo que os outros dois autores. Giddens rejeita a fusão do que ele classifica como “pós-modernidade” e “pós-modernismo”, o primeiro em um aspecto cognitivo e o segundo em termos estéticos, ou seja, separa o cognitivo do estético.
Como o senhor pode observar, meu segundo capítulo proposto refere-se a uma visão mais filosófica do tema da dissertação, passando por uma discussão acerca da questão estética envolvida nas relações sociais contemporâneas, principalmente no ciberespaço. Assim estruturei porque imaginei, como Lash, que não há como dissociar o indivíduo político na esfera pública das influências da arte e da cultura.
Entretanto, essa escolha faz com que o trabalho apresente-se de forma bastante alongada, já que no terceiro capítulo ainda há um debate sobre que envolve ciência política, direito e sociologia. Além disso há uma pesquisa empírica e a formulação de uma proposta conceitual, previstas no último capítulo.
Percorri todo esse caminho para explicar minha dúvida: mantenho a estrutura completa, passando pelo aspecto hermenêutico (estético), como acho necessário, ou devo ser mais “realista”, com a eliminação do segundo capítulo (sobre cibercultura) e redução do terceiro, o que tornará mais factível o trabalho? Caso opte pela redução, também não será nenhum absurdo teórico, já que me aterei ao aspecto cognitivo, como faz Giddens e Beck. Contudo, a conclusão certamente não será a mesma e, talvez, não satisfatória.
Em um círculo vicioso, se mantiver a estrutura, tenho receio de não dar conta adequadamente da jornada.
Em síntese (?) são essas as minhas preocupações que quero compartilhar. Espero que tenha me feito compreender, bem como aguardo um pronunciamento e um “norte” para seguir meu caminho.
Bom, de qualquer maneira deveremos entregar o primeiro capítulo até o meio de fevereiro, o que não me dá muito tempo (o primeiro capítulo não depende da decisão acima mencionada).
A banca do projeto ocorrerá, segundo dizem, em meados de março. Ainda falta avançar bastante, o que não me dá muitas esperanças de, ainda nas duas primeiras semanas de fevereiro, oferecer um capítulo primeiro próximo do definitivo, senão algo como um esboço do mesmo. Pretendo submetê-lo ao senhor para análise, porém não em um prazo muito curto, por todas as circunstâncias já explicadas.
Aguardo ansiosamente um contato.
Agradeço imensamente todo o auxílio.
Um abraço,
Rodrigo Neves
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