6 de fev. de 2007

A Sociedade em Rede - Cap. 3

Capítulo 3 – A Empresa em Rede

O surgimento da economia informacional se deu com a criação de uma nova lógica de organização baseada no novo paradigma tecnológico. A primeira percepção desse fenômeno se dá na identificação da transição da produção em massa para um modelo de produção flexível, ou seja, unidades de produção programáveis e flexíveis à variação de mercado, somente possível em razão das transformações tecnológicas. Igualmente, as empresas de pequeno e médio porte aparentam terem as características necessárias a esse novo mercado, porém isso ocorre, em geral, em um contexto de subordinação às grandes empresas, que se mantêm no centro da economia. Outra evolução observada refere-se aos novos modos de gerenciamento, havendo uma horizontalização da estrutura empresarial, permitindo uma diferenciação dos componentes de trabalho e capital em unidades de produção semi-autônomas, formando uma rede flexível. Quanto a essa formação em rede, ela se dá não só internamente, mas também em relação a empresas de pequeno e médio porte, em busca de nichos de mercado e empreendimentos corporativos. Além dessas novas formas de articulação das empresas, também ocorre a interligação entre aquelas de grande porte, para celebração de alianças estratégicas, formando uma complexa teia de acordos e joint ventures. É dessa maneira que suas operações ocorrem em conjunto com centenas e até milhares de subcontratadas, além de dezenas de parcerias com empresas de mesmo porte, com as quais cooperam e competem ao mesmo tempo. De todas essas características, que são relativamente independentes entre si, a principal parece ser a mudança de burocracias verticais para a empresa horizontal, já que a formação de redes garantiu a flexibilidade, mas não ofereceu a necessária adaptabilidade da empresa. De qualquer forma, a grande empresa, desde que consiga formar uma rede articulada com centros semi-autônomos de processos decisórios, tende a constituir-se uma forma superior de gerenciamento na nova economia, ou seja, uma “empresa horizontal”. Essa se caracteriza, assim, em uma dinâmica rede descentralizada constituída de unidades autoprogramadas e autocomandadas baseadas na participação e coordenação. Todas aquelas tendências levaram à desintegração do modelo de burocracias racionais e verticais de grandes empresas que tinham a produção padronizada em massa como padrão. A rigidez das culturas corporativas tradicionais foi o maior obstáculo a ser superado. Por isso, a crise foi inevitável e, dentre as diversas propostas, apenas algumas tiveram sucesso em criar contextos institucionais adequados à competitividade. Essa necessidade de modificação estrutural fez com que os avanços ocorressem independentemente das transformações tecnológicas, porém aproveitou-se dela para intensificar a reorganização da empresa em rede, ou seja, as mudanças organizacionais motivaram, de certa forma, a trajetória da tecnologia. Foi assim que o instrumental tecnológico adequado, disponível somente na década de 90, permitiu a criação de procedimentos flexíveis, cooperativos e interativos para o gerenciamento, a produção e a distribuição de bens e serviços. Eis porque se pode considerar que a interação entre a crise organizacional e as novas tecnologias determinou o surgimento de uma nova forma organizacional: a empresa em rede. Esta se constitui pela intersecção de segmentos de sistemas autônomos de objetivos, visando gerar e processar eficientemente informações, de forma a permitir a adaptabilidade, inovação e flexibilidade que permitam adequação às rápidas transformações culturais, tecnológicas e institucionais. Todavia, essas redes não determinam o fim das empresas multinacionais, que, em verdade, muitas vezes são o centro de grandes alianças. As redes cooperativas de pequeno e médio porte acabam desempenhando um papel secundário nos principais setores. As multinacionais são, hoje em dia, redes interoganizacionais, ou seja, uma rede inserta em uma rede externa. É dessa maneira que a estrutura do mercado é influenciada não somente pela oferta e procura, mas também por estratégias ocultas nas redes globais de informação. Em síntese, os elementos constitutivos desse espírito do informalismo são as redes de empresas formadas com base em ferramentas tecnológicas de informação e comunicação, visando adaptação a uma concorrência global, sendo o Estado um elemento decisivo nesse processo. Esse espírito, portanto, é uma cultura de “destruição criativa”, acelerada por circuitos optoeletrônicos que processam seus sinais em alta velocidade.

Nenhum comentário:

Total de visualizações de página

Pesquisar este blog. Resumo de livros, democracia, política, TIC, Relações Internacionais etc.