Cap. 5 – Cultura da Virtualidade Real: a integração da comunicação eletrônica, o fim da audiência de massa e o surgimento de redes interativas
Surge neste início de século uma nova forma de interação entre os dois lados do cérebro, havendo uma mudança fundamental no caráter da nossa comunicação, que agora ocorre por meio de texto, imagens e sons em um mesmo sistema. Como se sabe, a comunicação molda a cultura porque nós não vemos a “realidade”, mas o que “ela” significa em nossa linguagem. Portanto, a mudança da comunicação para uma rede global eletrônica mudará também nossa cultura, fazendo surgir a “cultura da virtualidade real”. Observando a evolução dessas mudanças, lembra-se que o sistema de comunicação anterior, baseado na mente tipográfica e pela ordem do alfabeto, já havia sido abalado pela televisão, que hoje modela a linguagem de comunicação na sociedade. A escrita favorece uma exposição sistemática, enquanto a TV é informal, sendo hoje o palco de todos os processos que se pretende comunicar à sociedade, seja na política, nos negócios, no esporte ou na arte. Nesse mundo binário, ou se está dentro o se está fora, sem meio termo. Todavia, as informações transmitidas pela TV são assimiladas pelas pessoas, que interagem com seu conteúdo, o faz parecer correto inexistir uma cultura de massa, já que cada local ou cultura modifica a significação final da mensagem. De qualquer forma, o tecido simbólico de nossa vida é influenciado pela mídia, que fornece a matéria-prima para o funcionamento de nosso cérebro. Como parece ser incorreta a aceitação de uma cultura de massa, por outro lado verifica-se uma constante segmentação da audiência por ideologias, valores, gostos e estilos de vida, fazendo com que a descentralização, diversificação e adequação ao público-alvo sejam o futuro da televisão. Não vivemos, portanto, em uma aldeia global, mas em domicílios sob medida. Essa característica, iniciada na VT, foi altamente potencializada pela Internet, principalmente porque a maior parte das comunicações na rede ocorre de maneira espontânea e não-organizada. Essa abertura à diversidade é conseqüência da concepção inicial da Internet, tanto de concepção militar como contracultural, esta última evidenciada pela informalidade e capacidade auto-reguladora de comunicação. As redes de comunicação mediadas por computador, assim, têm por características a penetrabilidade, a descentralização e a flexibilidade, alastrando-se como microorganismos, tendo culturalmente embutida em sua estrutura as propriedades de interatividade e de individualização. Esses são os requisitos da atual formação de comunidades virtuais, em geral organizadas em torno de interesses comuns, emergindo assim uma nova forma de sociabilidade e de vida adaptadas ao novo ambiente tecnológico on-line. Essas redes são apropriadas à formação de laços fracos, diversificados e especializados, úteis ao fornecimento de informações de baixo custo, formando uma camada fundamental de interação social, mas que também contribui para uma rápida individualização e verdadeira ruptura cívica. Essa abertura estrutural da comunicação mediada pelo computador, em outro sentido, também pode significar uma oportunidade de reversão dos jogos de poder tradicionais no processo comunicacional, melhorando o status de grupos comumente subordinados. Isso pode ser visto em conjunto com a inteligente utilização das tecnologias na democracia local, com experimentos de participação eletrônica dos cidadãos, demonstrando o grande potencial das redes de computador para o debate local auto-organizado e público. Ressalve-se, contudo, tendo-se em perspectiva o fato de que o acesso à tecnologia é seletiva, esse potencial pode fazer reforçar o papel das redes sociais culturalmente dominantes. Em todo caso, esse é o pano de fundo de um processo de transição para a “Sociedade da Informação”, fenômeno reconhecido pelos países da União Européia que têm estabelecido foros estratégicos para a construção da Sociedade Informática Européia. Na Internet, apesar desses esforços para favorecimento da educação e cultura, o que tem prevalecido é uma enorme rede de entretenimento, não obstante pesquisas indicarem um forte interesse das pessoas para usos políticos, comunitários e educativos, em vez de mais opções de entretenimento. Aquela prevalência ocorre porque a geração de riqueza com entretenimento eletrônico demonstra ser um investimento seguro do ponto de vista empresarial. Ainda assim, a segmentação dos interesses e a capacidade interativa têm proporcionado mais poder ao usuário da mídia, pois ele passa a decidir seu “horário nobre”, formando uma cultura de massa personalizada ao mesmo tempo em que se constituem comunidades interativas auto-selecionadas. Todas essas formas de comunicação, educativo, videogames, noticiários, novelas, música e esporte acabam trocando códigos entre si, fazendo com que a multimídia capte a maioria das expressões culturais, denotando o fim da separação entre mídia audiovisual e impressa, cultura popular e erudita, entretenimento e informação. Como já mencionado, não há separação entre a realidade e sua representação simbólica, fazendo parecer serem incorretas as críticas de que o novo ambiente simbólico não representa a “realidade”, pois significaria aceitar um absurda idéia de experiência real não-codificada. Toda realidade é percebida de forma visual – explica-se: virtual é tudo o que existe na prática ainda que não estrita ou nominalmente; real é o que existe de fato; portanto, a realidade vivida de forma virtual não deixa de ser realidade. Aliás, a inclusão da maioria das expressões culturais por canais eletrônicos tem tido efeitos importantes para os processos culturais, especialmente quanto ao poder simbólico dos emissores tradicionais fora do sistema, como a religião, moralidade e ideologia política. Esse novo sistema de comunicação modifica radicalmente a percepção cultura de tempo e espaço, que são dimensões essenciais da vida humana. O faz-de-conta torna-se realidade.
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