5 de fev. de 2007

A Sociedade em Rede - Cap 2

Cap. 2 – A nova economia: informalismo, globalização, funcionamento em rede.

Uma nova economia, informacional e global, surgiu nas últimas três décadas, organizando-se em uma rede que aplica conhecimento, administração e tecnologia no próprio conhecimento, administração e tecnologia. Nesse ambiente, em que a produtividade impulsiona o progresso, as características da sociedade são fatores subjacentes ao crescimento, pela maneira como se articula a inovação tecnológica. Porém, em uma aparente contradição, no mesmo período em que a revolução da tecnologia teve início observa-se uma tendência de diminuição da taxa de crescimento da produtividade, o que poderia indicar não haver diferença, na questão da produtividade, entre a era “industrial” e a “informacional. Em relação a esse ponto, primeiro é de se destacar que normalmente há uma defasagem temporal entre a inovação tecnológica e a produtividade da economia, já que a difusão dos novos processos nas instituições e culturas precisa passar por mudanças fundamentais antes da intensificação da produtividade. Isso faz com que a modificação do paradigma tecnológico nos anos 70 somente se consolidasse na década de 1990, o que justificaria a misteriosa desaceleração da produtividade no período, além do fato de que as estatísticas se demonstraram cada vez menos adequadas à nova situação. Este último fator, se revisto seu método, pode indicar que, nas décadas de 80 e 90, a produtividade tenha, na verdade, aumento por vias particularmente obscuras, envolvendo mudanças organizacionais que se difundiam a partir da produção de tecnologias da informação, telecomunicação e serviços financeiros. Assim, o extraordinário crescimento da produtividade na indústria de computadores deve ser interpretado como o formato predominante na nova economia. Por outro lado, enquanto a produtividade é a fonte de riqueza das nações, a lucratividade e a competitividade são os determinantes para a inovação tecnológica. Por essa razão, a busca por novos mercados determinaram o grande aumento do comércio e do investimento estrangeiro direto nas últimas duas décadas do século XX, apresentando-se com o motor de crescimento no mundo todo. Para que isso fosse possível, o capital precisou de imensa mobilidade e uma capacidade informacional muito grande. Demonstra-se, assim, que o conector entre tecnologia da informação, alterações organizacionais e crescimento de produtividade, em grande parte, é a concorrência global, indicando à economia industrial que a opção era globalizar-se ou desaparecer. Essa perspectiva de alterações estruturais causou uma destruição criativa em grandes setores da economia, fazendo com que o primeiro estágio da revolução da informação se constituísse em vantagens e desvantagens para o progresso econômico. Para esse raciocínio, considera-se que a economia global é aquela onde os componentes centrais têm capacidades institucionais para trabalhar em unidade e tempo real ou escolhido, em escala planetária. A seqüência temporal desses fatos nos indica que a interdependência global dos mercados financeiros decorreu da desregulamentação e liberalização dos mercados, da criação de uma infra-estrutura e tecnológica, da natureza dos novos produtos financeiros, como derivativos, das movimentações especulativas financeiras e, finalmente, da intervenção de firmas de avaliação do mercado mundial, como a Standard & Poor ou Moody’s. Essa interdependência condiciona as políticas monetárias e as taxas de juros em todos os países da rede, demonstrando que a globalização desses mercados é a espinha dorsal da nova economia global. Já em relação ao comércio internacional, este passa por uma profunda transformação, tendo o componente de conhecimento quanto a bens e serviços como sendo o fator decisivo no valor agregado, fazendo que uma orientação à exportação, dependendo da quantidade de informações que incorpore seus bens e serviços, não garanta o desenvolvimento de uma economia. Tal fato faz com que a nova divisão internacional de mão-de-obra mantenha o predomínio dos países da OCDE, em razão da intensidade do aprofundamento tecnológico e do comércio de serviços. De outro lado, a formação de blocos regionais, que parecia indicar um caminho para a uma estrutura regionalizada do comércio, apresentou-se, em verdade, como uma configuração de padrões de comércio em camadas e redes, o que não permite observar os países como unidade de comércio e concorrência. Nessa estrutura, as multinacionais apresentam papel importante, formando redes descentralizadas e organizadas em unidades semi-autônomas, em uma verdadeira “rede global” que é disseminada por territórios de todo o mundo, tendo uma geometria variável em cada unidade. Esse novo sistema de produção depende de alianças estratégicas de cooperação entre empresas, em razão da necessidade de uma forma flexível de acessos a tecnologias de comunicação. Essa configuração, distribuída desigualmente no globo, dá forma ao novo padrão de produção global e comércio internacional.

É certo que, como dito, a produtividade e a competitividade no paradigma informacional dependem da geração de conhecimentos, em um padrão de interdependência tecnológica não plenamente demonstrada pelas estatísticas. Sabe-se que o sistema de pesquisas acadêmicas é global, por que se não for deixa de ser científica. Porém, ele reflete uma dinâmica de exclusão dos interesses de um número significativo de pessoas, em razão de sua concentração em determinados contextos e países de economia avançada, fazendo com que a globalização seletiva da ciência desestimule a globalização da tecnologia. Até porque, a pesquisa acadêmica avançada é necessária, mas não suficiente, para o ingresso na era informacional, pois precisa de uma conexão com a tecnologia, o setor industrial e políticas nacionais e internacionais. Percebe-se, assim, que o Estado continua tendo papel importante no fornecimento de recursos humanos e infra-estrutura tecnológica, não obstante o fato de que o desenvolvimento científico e tecnológico desigual deslocaliza a lógica da produção nacional, deslocando-a para as redes globais multilocalizadas. Apesar desse processo de globalização da produção e do comércio, a mão-de-obra, com exceção de uma elite especializada, em sua maior parte é local. Contudo, percebe-se uma tendência de migração cada vez maior, surgindo um sistema de camadas de múltiplas conexões entre milhões de pessoas de várias culturas e entre fronteiras. Em resumo, a economia global não se refere a todas as economias, territórios e atividades, não obstante afete, direta ou indiretamente, a vida de todas as pessoas. Essa interligação, desigual, acaba tendo por característica uma assimetria entre os países, tendo um grupo de territórios e povos ligados nas redes de geração de valor e outros que, não tendo valor na rede, são descartados, caracterizando um sistema instável, dinâmico, seletivo e exclusionário. Ainda que a maior parte das pessoas não trabalhe para a economia global, todos os processos econômicos e sociais acabam tendo relação com sua lógica dominante. Essa lógica teve impulso determinante na década de 90, quando se expandiu por todo o globo por meio de pressão política de organismos internacionais como o FMI, o Banco Mundial e a OMC, visando à liberalização das economias nacionais. Isso foi possível porque, naquela década, grande parte do mundo em desenvolvimento e economias em transição dependiam de auxílios econômicos e quem perdesse a confiança do FMI tornava-se um pária financeiro. A OMC, criada em 1994, veio completar esse quadro instrumental no aspecto comercial. Dessa forma, políticas liberalizantes foram implantadas, com a promessa de um novo começo, o que ocorreria com apoio das potências mundiais, o qual realizaria milagres econômicos e institucionais nos países envolvidos. Aliás, em muitos deles, essa guinada histórica ironicamente ocorreu pelas mãos de reformadores que provinham da esquerda em sua maioria, rompendo com seu passado. Foi dessa maneira que a economia foi criada politicamente, apesar de não poder ser desfeita dessa forma, já que a configuração em rede do sistema faz com que qualquer nó desconectado passe a ser ignorado, enquanto os recursos permanecem a circular no resto da rede. Essa nova economia é, sem dúvida, capitalista, porém distinto daquele modelo clássico keynesiano. Pela primeira vez, todo o mundo é capitalista ou dependente da rede global capitalista, que tem um grande potencial de indução ao período longo de crescimento econômico, com a ressalva de que contém, em si, processos estruturalmente excludentes.

2 comentários:

Anônimo disse...

livro chato pra caralho...

Anônimo disse...

ola..como seria a diferenças e desigualdade sociais nesse cap 2 em sociedade me rede????

poderia responder no meu email ki_luzinha@yahoo.com.br..ajudaria bastante...

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