Cap. 6 – O Espaço de Fluxos
Espaço e tempo, que possuem um significado social, são as principais dimensões da vida humana, sendo que o espaço organiza o tempo na sociedade. Ambos estão se transformando por meio do novo paradigma da informação e novos processos sociais. A economia, expandindo-se para incorporação de novos mercados, necessita de serviços avançados em novas unidades que aderem ao sistema, constituindo o fenômeno da cidade global, que não se reduz a alguns núcleos urbanos no topo da hierarquia, apesar de ficar dependente da aglomeração em alguns centros metropolitanos. A rede é extensa e complexa, porém a execução dos serviços avançados fica dependente do fácil acesso a trabalhadores e fornecedores, quando e quantas vezes forem necessárias em cada situação específica, demonstrando que a cidade global não é um lugar, mas um processo. É o que permitiu a criação de um novo espaço industrial, que tem a capacidade organizacional e tecnológica para estabelecer a produção por unidades separadas fisicamente, mas ligadas pela telecomunicação. Esse processo precisa de uma relação de produção em que a cultura compartilhada gere uma sinergia, decorrente da interação dos elementos do meio, que resulte em inovações tecnológicas para todo o sistema. Eis porque as grandes metrópoles do mundo continuam a acumular fatores que induzem a inovação, não obstante parecer ser possível que, mediante as condições apropriadas, essa tendência possa ser alterada. Essas condições referem-se à concentração dos ingredientes que permitam a citada sinergia, em uma articulação entre o local e global. De toda forma, a descontinuidade geográfica é característica dessa nova localização industrial, organizada por fluxos de informações, paradoxalmente reunindo e separando seus componentes territoriais. A nova condição tecnológica também permite a dissociação da proximidade espacial com o trabalho, as compras, o entretenimento e os serviços públicos, em semelhante processo de dispersão e concentração espacial simultâneas, tendo a casa como seu centro. Ainda que não representando o fim das cidades, tal fato tem real impacto no espaço urbano. Portanto, a cidade informacional, que não é uma forma, mas um processo, decorrente da nova sociedade em rede baseada no conhecimento, caracteriza-se pelo predomínio do espaço de fluxos, representado principalmente pelas megacidades, que são seus pontos nodais. Para melhor compreensão, é de se dizer que o espaço não é uma cópia da sociedade, é a sociedade, sendo conceituado como o suporte material de práticas de tempo compartilhado. Tradicionalmente vinculado à contigüidade, essa não é mais uma característica sua na era da informação, pois há uma nova forma espacial das práticas sociais. É o já citado espaço de fluxos, que se constitui na organização das práticas sociais de tempo compartilhado por meio de fluxos, considerando-se estes como seqüências de interação entre posições fisicamente desarticuladas. O espaço de fluxos possui como suporte uma camada microeletrônica, que oferece a base material das relações sociais simultâneas, outra camada constituída por seus nós de comunicação, que são centros localizados de funções estratégicas, e por fim uma camada constituída pela organização espacial das elites gerenciais dominantes, que determinam a direção em que o espaço é articulado.
Sendo correta essa percepção, de que a forma espacial dominante é o espaço de fluxos, isto deve se apresentar na arquitetura, já que sempre houve uma ligação entre o que a sociedade dizia e o que os arquitetos queriam dizer. Porém, isto não é mais correto, pois a arquitetura pós-moderna declara o fim dos sistemas de significado, tendo por ideologia dominante o fim da história e suplantação de lugares no espaço de fluxos. Utilizam formas neutras que, ao não dizerem nada, comparam a experiência com a solidão do espaço de fluxos.
Em outra perspectiva, ainda que a maioria das pessoas tenha seu espaço organizado em lugares, o poder está organizado no espaço de fluxos, estabelecendo uma esquizofrenia entre as duas lógicas, o que pode romper os canais de comunicação na sociedade. Para que isso não ocorra, devem-se construir pontes culturais, políticas e físicas entre os dois espaços, evitando a estruturação da vida em universos paralelos do hiperespaço social.
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